EFEITO KULECHOV
A montagem é uma parte fundamental da construção da narrativa. É a última parte da produção de um filme, e é durante a montagem que o filme ganha forma, ritmo, ajuste de cor, música e efeitos de computação gráfica (quando necessário).
Nos anos 20 o cineasta russo Lev Kulechov reproduziu o experimento que ficou conhecido como “Efeito Kulechov”: uma série de três sequências onde o mesmo plano com a mesma expressão facial do ator Ivan Mojukine era unido aos planos de um prato de sopa, uma criança morta e uma mulher atraente. Foi relatado que os espectadores tiveram a impressão de que a expressão do ator demonstrava fome, dor e ternura respectivamente, de acordo com cada uma das três imagens que aparecia a seguir – evidencia-se uma tendência do espectador a “ler” os “textos”/planos justapostos como uma sequência, construindo uma história.
A conclusão desse experimento foi o reconhecimento do enorme poder da montagem, mas não apenas enquanto ligação narrativa entre imagens e sim como relação entre o meio (o equipamento cinematográfico) e a realidade: a montagem colocaria em relevo algo que existe em relação a um contexto e um olhar, não apenas um objeto fixo qualquer (um rosto, uma mão, um martelo, um revolver, etc.). Jacques Aumont lembra que Alfred Hitchcock falou sobre o Efeito-K em relação à Janela Indiscreta (1954) durante a famosa entrevista com François Truffaut que virou livro:
“(…) Pegamos um primeiro plano de James Stewart. Ele olha pela janela e vê, por exemplo, um cachorrinho que desce, dentro de uma cesta, até o pátio; voltamos à Stewart, ele sorri. Agora, no lugar do cachorrinho que desce dentro da cesta, mostramos uma moça nua que se requebra diante de sua janela aberta; voltamos ao mesmo primeiro plano de James Stewart sorridente e, agora, ele é um velho safado!”
No vídeo a seguir, Alfred Hitchcock fala sobre o Efeito Kulechov.
Texto original: http://www.rua.ufscar.br/lev-kulechov-o-ilustre-e-desconhecido-homem-do-efeito/